A confissão parece-me um acto bastante peculiar… Vou cometendo pecados atrás de pecados, chegando a um certo ponto em que deverei recorrer a ajuda espiritual a fim de me afastar do temível caminho da perdição! Eu questiono-me, a confissão está calendarizada efectuando-se em períodos estipulados ou somos nós que sentimos as picadas do maquiavélico tridente e corremos até à igreja mais próxima?
Depois no próprio acto da confissão, onde é obrigatório falar com semblante carregado, em tom sussurrante e curvado sobre a sua mágoa de forma cabisbaixa, o sujeito deverá contar todas as situações em que julga ter pecado? Mas como a memória é traiçoeira, o zeloso cristão deverá efectuar atempadamente uma listagem de todos os actos puníveis? Estes actos negativos não poderão ser compensados ou diminuídos pelas boas acções? O padre depois anotará todas as infracções? Estas infracções contam na mesma medida para a equação do mal? Ou há uma tabela conversora?
Depois de todo o rol de maldade ser esconjurado o padre faz algum cálculo? Mas esperem, o padre está academicamente habilitado de competências matemáticas? Os pecados são cumulativos ou contam só como um acto como no novo Código Penal? Como se efectua o cálculo entre Avé-Marias e Pais-Nossos a rezar (vamos lá a ver se há igualdade de género!)? Depois tenho algum prazo para cumprir a pena?
E muitas questões se colocariam... No fim parece-me que a confissão não é um acto tão simples… Mas permanece uma questão bastante pertinente… Como é que as orações me vão fazer reflectir de modo a que não possa cometer numa próxima os mesmos actos? Não seria melhor encetar um diálogo pedagógico com o Sr. Prior? Talvez ele pudesse explicar o porquê dos actos malévolos e ensinar estratégias de resolução e problemas… Uhm, não me parece, retiro o que disse, vamos deixar isto para os profissionais!
Não sei porquê mas isto das orações parece-me suborno… Pelo sim pelo não rejeito a confissão!
(Pelo que estudos referem, a religiosidade constitui um mecanismo protector perante a adversidade, isto é, numa situação de crise os indivíduos que estão próximos da Igreja conseguem resolvê-la mais facilmente.)
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